1 LIBRAS, QUE LÍNGUA É ESSA?

1 LIBRAS, QUE LÍNGUA É ESSA?

Texto extraído do livro – Libras II – Biblioteca Virtual – UFPB

Desmistificando a Língua Brasileira de Sinais diversos autores, através de suas pesquisas na área, vêm mostrando claramente que as Línguas de Sinais podem ser comparadas em termos de complexidade e expressividade a quaisquer línguas orais, mesmo se pertence a uma modalidade diferente, são visual-espaciais, ou seja, são estabelecidas pelo canal visual (visão) e utilizam o espaço para estabelecer a comunicação entre os seus interlocutores.

As pessoas usuárias da Libras, sejam surdas ou ouvintes, podem estabelecer discussões sobre diferentes temas como: filosofia, política, esportes, literatura e da mesma forma, utilizá-la com função estética para recitar poesias, fazer teatro, histórias, humor entre outras. A diferença da modalidade das línguas de sinais determina o uso de mecanismos sintáticos específicos diferentes dos utilizados nas línguas oral-auditivas, por exemplo, na língua portuguesa.

Um dos mitos mais famosos com relação às línguas de sinais é a de que são universais, visto que a universalidade se ancora na ideia de ser esta língua um código que os surdos utilizam para se comunicar e, muitas vezes transmitir fatos da língua portuguesa, podendo até comunicar-se em qualquer lugar do mundo. Esse mito não é verídico, visto que do mesmo modo que as pessoas falam diferentes línguas orais no mundo, também as pessoas surdas em qualquer parte do mundo falam diferentes línguas de sinais.

O surgimento de uma língua em determinada comunidade envolve aspectos culturais e de interesses comuns, por isso os surdos brasileiros não podem falar, por exemplo, ASL – língua de sinais americana, nossa cultura e interesses nos diferenciam. Mesmo o Brasil e Portugal que possuem a mesma língua oficial oral, no caso dos surdos nascidos nesses países, suas línguas de sinais são diferentes, os surdos portugueses utilizam a LSP – Língua de Sinais Portuguesa e nossos surdos usam a Língua Brasileira de Sinais – Libras, do mesmo modo Estados Unidos e Inglaterra.

No Brasil também temos registro de uma língua de sinais utilizada pelos índios UrubusKaapor, que vivem na região amazônica.

1.1 A LÍNGUA DE SINAIS NO BRASIL

No Brasil, em 1855, um surdo francês, Ernest Huet, em comum acordo com o imperador Dom Pedro II, chega ao país e cria a primeira escola nacional de surdos, atualmente o Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES na cidade do Rio de Janeiro. As línguas de sinais são rodeadas no imaginário popular de vários mitos. Outro fato relevante em que se acredita é que estas línguas são ágrafas, ou seja, não possuem escritas. Na verdade, até pouco tempo, as línguas de sinais não possuíam escrita, mas a ideia de representá-la graficamente surgiu em 1974, por Valerie Sutton, uma coreógrafa americana que fez uma espécie de transcrição dos sinais para utilizá-los com os passos de dança, isto de imediato chamou a atenção da comunidade científica dinamarquesa das línguas de sinais. Iniciam-se, então, pesquisas na área e, a partir deste momento, acontece o primeiro encontro de pesquisadores, nos EUA organizado por Judy Shepard Kegel, e dele um grupo de surdos adultos aprendem a escrever os sinais do Sign Writing, a escrita dos sinais.

1.2 NOMENCLATURAS UTILIZADAS NA ÁREA DA SURDEZ

Várias são as nomenclaturas utilizadas para nomeação. Mas, de fato, como podemos nos referir? Surda? Pessoa surda? Deficiente auditiva? Pessoa com deficiência auditiva? Pessoa com baixa audição? Portadora de deficiência auditiva?
Primeiramente não devemos nos reportar ao termo PORTADOR (A) para nos referir a esta pessoa como substantivo ou adjetivo de portar alguma coisa. Ter uma deficiência não significa que ela a porte. Tanto o substantivo portador quanto o verbo portar não se aplicam à condição inata ou adquirida da pessoa surda. O termo adequado e considerado pela comunidade surda é “Surdo” ou “Pessoa Surda”. Surdez ou deficiência auditiva.

É muito comum atualmente, e isto é de conhecimento de diversas pessoas, que alguns surdos não gostam de ser considerados deficientes auditivos e algumas pessoas com deficiência auditiva não gostam de ser consideradas surdas. Também existem pessoas surdas ou com deficiência auditiva que são indiferentes quanto a serem consideradas surdas ou deficientes auditivas.

A língua de sinais é uma língua e não uma linguagem. Por isso, não devemos utilizar os termos “linguagem de sinais” e sim “Língua Brasileira de Sinais”. Língua define um povo, como o povo brasileiro. Linguagem pode ter vários sentidos: linguagem visual, dos animais, corporal, musical, etc.